quinta-feira, 10 de abril de 2008

Quatro pegadas

Lembro agora dela. A conheci quando ainda era nova demais pra demonstrar algum carinho por mim. Mas ela demonstrou. Desde novinha me olhava com aqueles olhos sacanas, me convidando pra brincar. Depois que cresceu, nada mudou.

Não sei se alguém aqui sabe o que é sorrir só de olhar pra alguém. Eu me deitava no chão e ela apoiava a cabeça no meu peito... eu ficava fazendo cafuné, feliz por ouvir a respiração dela ao meu lado. E quando ela pegava no sono, eu me divertia ouvindo o ronco dela, baixinho.

Todo dia ela me recebia ao portão, depois de um dia estafante. Sempre me arrancava um sorriso. E eu sempre serei eternamente grato a ela por isso. Ela dava leveza ao peso cotidiano. Foi minha companheira em alguns dos momentos mais difíceis que passei enquanto estava com ela. Ouvia-me tocar violão com toda a paciência do mundo... me esperava acordada quando eu demorava pra sair do chuveiro. Foi minha companheira de insônia.

Adorava as poesias que eu lia pra ela. A ela dediquei algumas composições minhas também; ela nunca me precisou dizer que estava agradecida por isso. Todo dia, ao me acordar com beijos, ela mostrava. Me acordava com beijos, me beijava sempre que meu rosto estava ao seu alcance e, antes de dormir, me beijava por medo de não estar por perto no dia seguinte.

Amei a essa cadela mais do que amei qualquer mulher. Hoje, dia 10 de abril de 2008, às 19hs, morreu a minha preta. Ficam as saudades dos bons momentos - única possibilidade de eternidade, afinal - , as lágrimas do vazio que fica... o aperto no peito. O cheiro dela ainda está pela casa. Espero nunca me esquecer desse cheiro. Te amo, meu Hannão.